quinta-feira, 8 de outubro de 2015

019 - Eu Não Gosto do Bom Gosto...

Olá, amadjenh@s de Tom!!!
Como estamos tod@s? Pelamordedels, me digam boas notícias, porque estou necessitado. A coisa tá braba!
Estou num período de calmaria aparente, mas internamente, é pura agitação: seleções, trabalhos, muita expectativa e manutenção da Discoteca, da Filmoteca e da Biblioteca. Cansado é a palavra!
Mas não pensem que estou reclamando, de jeito maneira! Amo estes períodos, com cansaço e tudo! E esperando os frutos que ando plantando com ansiedade!
Nestes momentos de maior agitação interna e pouca energia, eu tendo a fugir do que eu chamo de "artes do fuá" e busco coisas mais relaxantes, que me permitam botar para fora as más energias e recarregar as boas. Todo mundo precisa disso, de vez em quando, não?
Então, quando fui ver o Quadro de Sugestões dos Trigêmeos - que, aliás, está ficando cheinho, mas sempre aguardando mais nomes de vocês, podem enviar, que eu adoro conhecer coisas novas -, achei uma obra ideal para este meu período, e é com ela que vamos hoje!
Simbora!

Fonte da imagem: http://vinilrecords.com.br/

Álbum: Senhas
Artista: Adriana Calcanhotto
Gravadora: CBS/Columbia/Sony Music
Data de lançamento: 1992
Fonte da imagem: http://blogs.ne10.uol.com.br/social1/
A gaúcha Adriana da Cunha Calcanhotto fez quarenta primaveras este sábado, dia 03 de outubro! Como o post do dia 04 já estava comprometido, e eu não teria tempo hábil de escrever um novo TÃO na bucha, resolvi comemorá-lo na próxima postagem aqui, da Discoteca - aliás, falar de nosso primeiro símbolo da MPB-pop havia sido sugerido pela linda fofa e talentosa profissional Naísia Xavier, justamente no dia 02, olhem só! Enfim, eu resolvi falar de seu segundo álbum, Senhas, que é o meu favorito, e pronto foi sua fonte de sucessos radiofônicos mais segura.
Fonte da imagem: http://vinilrecords.com.br/
Falar de Senhas é - além dos óbvios sucessos radiofônicos - falar das capas do álbum. Eu adoro um álbum com mais de uma capa, onde a gente pode escolher qual ficará na frente - óbvio, escolhi a azul, porque gosto muito mais de azul e verde que de vermelho e amarelo. Outro ponto: eu não consigo lembrar de Adriana Calcanhotto loura e assinando seu sobrenome com apenas um T! Aliás, nem consigo imaginá-la loura, mesmo vendo as capas dos primeiros álbuns (aliás, ela está linda atualmente, de cabelo comprido, não acham?).
Senhas traz uma Calcanhotto perfeitamente encaixada no "gênero MPB", mas com uma sensibilidade pop rara, ideal para as rádios - exatamente como em seu álbum de estréia, "Enguiço". Mas aqui, ela já dá sinais de que compreendeu bem as "regras do jogo" e está dando os passos iniciais para as suas quebras - que se daria a partir do próximo álbum, "A Fábrica do Poema". Os sambas de sua autoria (peguemos "Tons" por exemplo) não são "exatamente sambas" - há instrumentos percussivos que os sambistas tradicionais não usam (aliás, palmas para a Mangueira do Amanhã pelo trabalho na faixa), e um saxofone que definitivamente não seria usado jamais pelos mais puristas - mas que se encaixa aqui perfeitamente. Há poesias que flertam com o concretismo aliadas a arranjos que permitem algumas ousadias estéticas (como a hipnótica "Segundos" e "Negros"). É uma Adriana ainda não no seu melhor momento como compositora, mas já mostrando as garras e avisando que a coisa irá mais longe.
Fonte da imagem: http://produto.mercadolivre.com.br/
O álbum também traz sambas clássicos (o melhor deles, "Mulato Calado"), com os arranjos mais simples possíveis, como forma de não "desrespeitar" os autores originais - ainda que sem tanta inventividade, é nos momentos "samba de barzinho" que sua voz mais brilha.
Calcanhotto transita com certa facilidade entre o pop, o samba e a MPB, e tem a qualidade admirável de cantar passagens dificílimas, num tom absurdamente agudo, mas que simplesmente não agride o ouvinte - aliás, o ouvinte mais desatento nem percebe, graças à suavidade com que ela interpreta. Mas ao mesmo tempo em que esta é sua maior qualidade, este também é seu maior problema. Após a metade do álbum, já passados os singles, o álbum fica um pouco cansativo - por conta justamente da interpretação de Adriana. Não que não possua nuances - muito pelo contrário. Mas é TÃO contida que parece que ela está cantando a mesma coisa, não importa qual a canção, e torna o resultado, digamos, monótono, vejam que ironia... Exceção justa deve ser feita à faixa-título, onde ela abdica de sua passivo-agressividade suavidade habitual e entrega uma performance potente e assertiva (o negócio é que "Senhas" é justamente a faixa que ABRE o disco...).
Fonte da imagem: http://www.mpbnet.com.br/

Eu também canto sem violão, minha gente! Tão achando que sou uma cantora de MPB qualquer?
Aqui, ela se abre muito mais que em qualquer de seus outros álbuns, tanto o anterior quanto qualquer outro que viria depois. Senhas talvez seja o álbum mais lembrado por ser aquele onde Adriana expõe sua homossexualidade ao mundo (sem revelá-la diretamente - reparem BEM em "Esquadros" - ela também fala da cegueira de seu irmão, aqui). @ ouvinte (ou @ leitor@) mais antenad@ pode encontrar fragmentos da pessoa Adriana Calcanhotto em suas letras, aqui. Nada rasgado (ela nunca fez nada abertamente confessional, até hoje, e não creio que ela vá fazê-lo a esta altura de sua carreira), mas há informações lá a@s mais íntim@s e a@s mais atent@s.
Os singles de Senhas todos estouraram nas rádios - o primeiro, "Esquadros", por mérito próprio - e, claro, uma curiosidade geral do público para saber como Adriana seguiria o sucesso estrondoso de "Naquela Estação". O segundo single (e as vendagens do álbum, também, obviamente), foi ajudado pelo fato de ter entrado na trilha de uma novela global. "Mentiras" é a coisa que eu mais lembro de "Renascer" - e a que mais lembro de cantar junto no carro, quando ela tocava no rádio a caminho do Colégio São Domingos (ou voltando dele) - e se tornou um dos seus maiores sucessos.
Fonte da imagem: http://produto.mercadolivre.com.br/

Acho que vou ficar morena, agora... que você acha?
Adriana Calcanhotto é uma d@s melhores artistas da geração 1990 da música brasileira, independente de gênero musical. Trazendo suas composições e parcerias junto com suas versões para medalhões como Caetano Veloso, Cazuza e alguns dos Titãs, ela obviamente iniciou em Senhas uma busca por auto-expressão inserida no conceito do que pode ser "vendável" para a indústria musical, ao mesmo tempo em que ela contrapõe fórmulas radiofônicas com seu desejo de independência. Este desejo se reflete melhor em suas letras. Musicalmente, quando ela tente se desvencilhar dos clichês radiofônicos, fica presa em melodias e harmonias simples - afinal, ela é ciente de que é uma popstar (para o bem e para o mal), e que suas melodias mais sensíveis e cativantes se mantêm acima da média quando ela transita justamente por este terreno.
Fonte da imagem: http://ar7e.com.br/

Bitch, please! Soy una diva!
Ao final de tudo, Senhas é o álbum que cimentou Adriana Calcanhotto como um nome fixo no panteão da MPB, e não mais uma promessa. E a maior prova são seus hits, que permanecem na lembrança coletiva até hoje, vinte e três anos após o seu lançamento.
Quem vai dizer que la Calcanhotto não tem o poder?

VEJAM TAMBÉM!
Biblioteca

"O Morro dos Ventos Uivantes"
(romance)
Emily Brontë
Filmoteca

"A Casa das Almas Perdidas"
(longa-metragem)
Robert Mandel

Um comentário:

  1. Bom gosto puro!
    Obrigada por me deixar opinar no blog, Tom!
    Resenha cuidadosa e muito pessoal; parabéns.

    ResponderExcluir