sábado, 26 de setembro de 2015

016 - Não Me Tortures até Eu Ficar tão Louco como Tu!

Hoje é um dia que traz uma oportunidade especial - um dia em que coincidiu de tanto a Discoteca quanto a Biblioteca têm postagens novas para vocês! Então, surge uma oportunidade maravilhosa para buscar um livro legal e uma música que nasceu inspirada por ele - ou, quem sabe, um livro que tenha surgido de uma música legal. Poderia eu perder este tipo de oportunidade? MiniTom discorda - e eu concordo com ele!
Aliás, uma salva de palmas para a querida, doida e folgada Tânia Rosa, que sugeriu as obras certas para este dia especial! Estes posts são dedicados a você, amada!
Então, sem mais delongas, vamos tratar da música de hoje!

Fonte da imagem: http://www.katebush.com/

Single: Wuthering Heights
Artista: Kate Bush
Gravadora: EMI
Data de lançamento: 20/01/1978
Fonte da imagem: http://opasquindie.com/

Hello, Kate!
Catherine Bush é uma cantora da voz esganiçada de voz que lembra muito a da Tetê Espíndola que fez um enorme sucesso nos anos 1980 e pra quem vocês estão provavelmente pouco ligando atingiu status de deusa pop em sua Inglaterra natal. Para terem uma idéia do poder da mulher: aos 19 anos de idade, foi a primeira mulher a ter um single escrito por si (e sozinha) em primeiro lugar na parada britânica. De lá para cá, são vinte e cinco singles no Top40 britânico - quatro deles no Top10. Dez álbuns - todos Top10 (dois deles alcançaram o primeiro lugar). É a primeira mulher britânica a chegar ao primeiro lugar da parada de álbuns em carreira-solo, e a primeira mulher a estrear um álbum no topo. Quer mais? É a única artista, independente de gênero, a ter ao menos um álbum no Top5 britânico em cinco décadas seguidas! 13 indicações aos prêmios BRIT (uma vitória como Melhor Cantora Britânica em 1987), três indicações ao Grammy e vencedora de um prestigioso prêmio Ivor Novello em 2002 pelo conjunto de sua obra (ela também possui alguns outros regulares na estante). E, como a cereja do bolo, ganhou em 2013 a Comenda da Ordem do Império Britânico por seus serviços à música da Grã-Bretanha. Ela também é dançarina e mímica! Tá bom, ou querem mais?
Fonte da imagem: http://melodyandwords.com/
Bem, vamos à obra de que vim falar aqui, que é isso o que vocês querem ver de verdade, e é assim que tod@s nós ganhamos mais, não é mesmo? Podem cobrar, eu finjo que gosto!
Wuthering Heights foi inspirada no livro de mesmo título de Emily Brontë, aqui chamado "O Morro dos Ventos Uivantes" (já sacaram quem figura na Biblioteca, hoje?). A canção fala da relação de amor e ódio entre o casal principal: Catherine Earnshaw e Heathcliff ("Você era genioso tanto quanto eu era ciumenta"... "Como você pôde me deixar quando eu precisava te possuir? Eu te odiei, e também te amei!"). A letra utiliza várias citações de Catherine, tanto no refrão ("Deixa-me entrar! Estou com tanto frio!") quanto nos versos, onde encontramos a confissão de Catherine sobre "sonhos ruins na noite". Obviamente, a canção é cantada sob o ponto de vista de Catherine - basta notar que o refrão é sua súplica para que Heathcliff a deixe entrar no quarto pela sua janela. A cena é um primor, mas quem leu o livro - ou deu uma olhada primeiro na Biblioteca - sabe que Catherine é de fato uma companheira do Gasparzinho um fantasma, a clamar amavelmente por Heathcliff do além-túmulo. O refrão é específico de uma cena no início do livro, onde a "gelada" Catherine agarra a mão de Sr. Lockwood, o narrador do livro, pela janela do quarto, a pedir que ele a deixe entrar, para que ela possa ser libertada de seu purgatório pessoal através do perdão de seu amado Heathcliff.
Fonte da imagem: http://gifsgallery.com/

Durma com essa Cathy pegando no seu pé...
Fonte da imagem: http://gifsgallery.com/
A canção deu o tom do que viria a ser não apenas seu álbum de origem, "The Kick Inside", mas toda a carreira de Kate Bush: uma busca incessante por histórias longe de sua vida pessoal por fontes de inspiração (vale tudo: filmes, reportagens, acontecimentos com pessoas próximas, ou mesmo um livro, como neste caso). Musicalmente, é artsy-fartsy até as horas quase deliberadamente excêntrica, plena de demonstrações de conhecimentos de construção musical e lírico, pisando em territórios não usuais ao pop corrente nas rádios da época (e ainda não usuais até hoje) - mas ainda assim acessíveis ao ouvinte - o que a torna um artigo único no mar de "coisas fáceis ao ouvido" por onde a música comercial navega. Instrumentos não convencionais no pop, como a celesta, se juntam ao piano para estabelecer o clima de uma noite gélida, e à voz semi-operática de Bush para retratar o espírito de uma mulher condenada a vagar pela charneca até se reunir com seu amado. Dois versos mantêm o ritmo antes uma orquestra de cordas entrar na música para fazê-la decrescer na ponte, estabelecerendo a tensão do momento, e arrebatar em seu refrão. Ao final, as guitarras de Ian Bairnson demonstram todo o desespero de Catherine.
Fonte da imagem: http://gifsgallery.com/

Falem o que quiser, mas foi esse clipe que me fez ter medo de Kate Bush!
Wuthering Heights ganhou dois videoclipes. O primeiro me fez me cagar todinho de medo segue bem o conceito da canção e da parte do livro à qual a letra se refere. Há algo no contorcionismo Cirque du Soleilzístico na coreografia, junto ao figurino (um vestido branco muito longo) e ao cenário (fundo negro com luzes no alto e fumaça de gelo seco no chão) que evocam algo fantasmagórico e sombrio. O segundo clipe foi feito para o público externo à Europa, que, como este que vos escreve, é menos dado a materiais que desafiem demais seu coração. A coreografia permanece praticamente inalterada, mas agora, Kate Bush incorpora Catherine Earnshaw vestida de vermelho e com maquiagem pesada (que lhe tira um pouco o peso fantasmagórico, mas não o senso de perigo), e no ambiente externo, em uma charneca que lembra as terras de Yorkshire, onde se passa a história de Emily Brontë (se não forem as próprias). Pessoalmente, não sou fã dos vídeos, e nem é por eles serem habitués do "Piores Clipes do Mundo"... é por simplesmente não serem de meu gosto particular. Mas sou obrigado a reconhecer dois fatos: 1) ambos os clipes refletem bem a atmosfera da canção e do livro de onde e inspiração partiu; e 2) ambos os clipes são dignos de muitos, MUITOS gifs!
Fonte da imagem: http://gifsgallery.com/

Essa mulher deve ser do elenco de algum filme oriental de fantasmas, só pode!
Fonte da imagem: http://gifsgallery.com/
A capa do compacto chama a atenção pela linda arte - é algo raro, visto que a maioria dos singles não tem este cuidado por parte tanto de artistas como das gravadoras. A imagem de Bush agarrada em uma enorme pipa faz alusão à faixa do lado B: "Kite" - mais uma faixa escrita e composta por Kate Bush, que também faz parte de "The Kick Inside", e é bem mais acessível lírica e musicalmente que a canção principal (embora por isso mesmo não tão charmosa quanto). Ainda assim, digna de nota e de algumas escutadas repetidas e de um estudo de sua letra curiosa, cujas imagens se perpetuam também na capa do álbum ("Eu observo na altura do olhar, não é bom o bastante. E então descubro quando olho para cima: há um buraco no céu, com um grande olho a me chamar.").
Fonte da imagem: http://gifsgallery.com/

Kate vai lhe pegar!
Wuthering Heights foi regravada por muita, mas MUITA gente, MESMO! Mas francamente, pra mim, todas elas são um desperdício de tempo e esforço (tanto de quem faz como de quem ouve). Esta é daquelas canções que já nascem definitivas, e só uma pessoa consegue lhe fazer justiça. Definitivamente, Wuthering Heights é um dos melhores singles de estréia de todos os tempos. Well done, Kate Bush!
Fonte da imagem: http://gifsgallery.com/

Kate se despede e deixa o recinto!

Association of Dutch Phonographical Industries 1978:
Prêmio Edison de Melhor Single ("Wuthering Heights")

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